Gravidez na adolescência: opção ou descuido?
Mesmo com a facilidade de acesso à informação, uma adolescente dá a luz a cada 6 horas em Sorocaba.

Com tantas mudanças nos dias atuais em comparação com o que vivíamos há 20 ou 30 anos - especialmente no que diz respeito a informações - é difícil imaginar que algumas meninas não tenham conhecimentos suficientes sobre sexo e gravidez. Mas ainda existem casos em que jovens meninas ainda não têm ideia das consequências de um ato sexual sem prevenção, não sabem que pode ocorrer uma gravidez indesejada ou contrair doenças sexualmente transmissíveis. Engravidar na adolescência pode atrapalhar o desempenho escolar, dificultar a busca pela carreira profissional e adiar experiências que são formadas na juventude. Dados do IBGE mostram que 1200 adolescentes ganham bebê por ano na cidade de Sorocaba – e isso significa uma nova mãe a cada seis horas.
Ainda de acordo com o IBGE, em 2011, dos partos feitos no Brasil naquele ano, 17,7% foram de adolescentes entre 15 e 19 anos. Considera-se que o ideal seria manter essa taxa abaixo dos 10%, segundo dados da pesquisa realizada pela “Estatística do Registro Civil”.
Mas por que isso acontece? A resposta é complexa, são vários fatores que influenciam uma jovem a engravidar. O mais comum é a falta de informação dentro da própria casa. Muitos pais, com vergonha ou por não saber como explicar para uma criança, acabam não conversando sobre sexo, e assim, a menina, em busca de uma fuga da realidade ou de uma felicidade momentânea, acaba se relacionando sexualmente e, por fim, engravidando.
Segundo a psicóloga Edna de Fátima Righeto, da cidade de Tietê (SP), um dos motivos para a gravidez na adolescência é a baixa escolaridade que favorece a falta de informação e, mesmo quando recebida, há dificuldade em interpretar e por em prática a teoria. Ela diz também que existem jovens adolescentes que precisam de acompanhamento psicológico durante toda a gestação. A ajuda é procurada espontaneamente ou é feito encaminhamento pelo ginecologista. “Não podemos ignorar que gravidez na adolescência oferece risco à saúde e ao estado emocional, que vai desde o medo do parto até as incertezas de como será após o nascimento da criança, visto que muitas mães não irão conviver com o pai da criança”, comenta a psicóloga.
Outro fator comum para a gestação precoce é a carência e abandono dos pais. Algumas meninas não têm qualquer apoio e educação em casa. E uma criança sem cuidado algum procura na rua o que não tem em seu próprio lar, assim, acaba suprindo essa necessidade afetiva com um namoradinho ou com um caso apenas de uma noite. É comum se entregar sem pensar nas consequências, ou pensando que “isso não vai acontecer comigo”. O resultado com a mudança de vida que a gravidez precoce traz é a perda da juventude, das oportunidades de estudo e de formar uma família de maneira estruturada.
O abuso sexual de jovens também entra para essa lista de causas de uma gravidez indesejada. Ainda no século XXI existem casos em que meninas são abusadas sexualmente até mesmo por membros da própria família, que acabam engravidando a vítima, destruindo completamente sua ingenuidade e juventude e traumatizando a adolescente por toda a vida.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados em 2012, problemas durante a gravidez é a maior causa de morte entre jovens adolescentes entre 15 e 19 anos, em países mais pobres ou em desenvolvimento. As mortes ocorrem por alguns motivos, um deles é o aborto feito de forma inapropriada. Os riscos da gravidez na adolescência incluem parto prematuro, bebê com baixo peso ou desnutrido, infecção urinária ou vaginal, aumento do risco de depressão pós parto, aumento do risco de rejeição ao bebê após o nascimento, pressão alta e sistema emocional descontrolado.
Porém, nem todas as histórias são assim, existem casos de gravidez na adolescência que acontecem para compor uma família e criar laços eternos, como o caso da jornalista Edileine Ferreira Guimarães, 48 anos, que foi mãe aos 19. Ela comenta que quando descobriu a gravidez foi um choque, ficou assustada pois tinha acabado de passar no vestibular, não trabalhava e estava namorando há apenas seis meses. “Decidimos que ficaríamos juntos, nossos pais ficaram chateados e tristes, mas depois aceitaram e nos ajudaram bastante no começo de nossa vida”, comenta a jornalista.
A grande dificuldade de toda mãe de primeira viagem é a inexperiência, porém quando se é jovem, a isso se soma a imaturidade e a inconsequência como cita Edileine: “Minha primeira filha, coitadinha, foi meu ‘tubo de ensaio’ como mãe. Mas enfrentei tudo com amor, pois este sentimento transforma meninas em mulheres da noite para o dia, um sentimento tão forte e inigualável.”
Relacionamento sério na adolescência
Outra situação é o namoro muito jovem, não que isso seja um problema, mas é algo que faz com que a infância se anule, a criança pula a fase de ‘brincar” para a de se relacionar sexualmente muito precocemente. A jovem Fabiana de Camargo Alves, hoje com 22 anos, é Pedagoga Educação Especial e teve seu primeiro filho com 15 anos de idade. O detalhe é que ela já namorava há quatro anos e meio. “A minha reação foi a esperada por uma menina de 15 anos: fiquei sem chão, jamais imaginei ser mãe tão nova, e demorei muito tempo para digerir toda a situação, confesso que não foi fácil”, diz. Nessa situação a ajuda dos pais foi fundamental para a aceitação da jovem que se tornaria mãe: “Meus pais foram a base para eu poder enfrentar, não cogitaram em momento algum que eu fosse obrigada a me casar, ou até mesmo sugeriram um aborto.”
Fabiana ainda conta que sofreu preconceito na época em que engravidou, foi julgada por ser tão jovem e já estar carregando um filho, mas ela admite que não foi algo que a afetou: “Eu tinha as pessoas que amava do meu lado, e isso já era de grande sorte, contando que na mesma época que engravidei conheci casos de meninas que também estavam grávidas e as famílias as expulsaram de casa.”
Hoje em dia, Fabiana com 22 anos e sua filha Maria Clara com 7, garante que sua vida é normal como a de toda jovem com sua idade: sai com os amigos, curte uma balada, porém com a consciência que ela tem uma responsabilidade a mais que as outras meninas que é a de cuidar e ter tempo para sua filha. Ela administra seu tempo para conciliar tudo e ainda diz que sua mãe a ajuda bastante nesta fase de crescimento da filha, podendo até afirmar que Maria Clara tem “duas mães”.
Ambas as entrevistadas não aconselham jovens meninas a engravidar na adolescência. Pois é importante viver cada etapa da vida, sem pular algumas fases que são necessárias para o amadurecimento. Usar métodos contraceptivos e buscar mais informações sobre sexualidade são dicas de extrema importância. Além disso, engana-se quem pensa que gravidez não acontece na primeira relação sexual – ideia que povoa a mente das adolescentes desinformadas.

* Luana Andrade é estudante do 5º semestre de jornalismo do Ceunsp (Salto-SP) e participante do projeto Muito Mais, sob orientação da jornalista Helena Gozzano, voluntária no Instituto Noa (www.institutonoa.org.br)