Jovens de países menos desenvolvidos são mais empreendedores

Estudo aponta diferenças entre gerações, sexos e regiões
na hora de montar um negócio próprio
Em países com economias pouco competitivas, ainda regradas por produção de bens básicos e commodities, baixa qualificação profissional e baixos salários (como na América Latina e na África Sub-Saariana), os jovens percebem variadas oportunidades – 52% deles têm intenção de iniciar um novo negócio. À medida em que muda o índice de competitividade do país, com economias mais estáveis, alta tecnologia, bons salários e indicadores de eficiência e inovação (como os Estados Unidos e alguns países europeus), mudam também as ideias sobre o que seriam oportunidades e há uma diminuição na vontade de empreender -- apenas 19% dos jovens europeus pensam em abrir um negócio próprio e somente 8% estão engajados em alguma atividade empreendedora.
Essas significativas diferenças no espírito empreendedor entre as regiões do mundo é uma das constatações do relatório “Potencial Futuro – empreendedorismo jovem 2015”, publicado pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM).
O relatório reúne dados coletados entre 2012 e 2014 e joga luz sobre o que move os jovens empreendedores e o que tem impacto sobre o seu sucesso (ou fracasso) em cinco regiões: África Sub-Saariana (SSA), Oriente Médio e Norte da África (MENA), Sul e Sudeste da Ásia (S&EA), América Latina e Caribe (LAC) e países da Europa (ECC).
Empreendedorismo feminino
A participação da mulher no mercado de trabalho aumentou em algumas regiões do mundo, mas em termos globais declinou, passando de 51,9% em 2000 para 50,3% em 2014. A taxa de participação das mulheres em atividades econômicas varia consideravelmente entre países e regiões, mostrando grandes diferenças entre os sexos.
Alguns números sobre emprego:
Nos países do Oriente Médio e Norte da África, apenas 21,7% das vagas de emprego são ocupadas por mulheres. Além disso, 27% das mulheres empregadas nessas regiões são classificadas como “trabalhadoras familiares sub-remuneradas” (contra 18% da média global).
No Sudeste da Ásia, os homens têm 2,5 vezes mais chance de encontrar trabalho do que as mulheres.
As mulheres sofrem mais restrições sociais e culturais do que os homens e encontram mais dificuldade em se tornar donas de seus próprios negócios porque ainda estão sobrecarregadas com:
alto nível de responsabilidade doméstica,
baixa formação (especialmente em países em desenvolvimento),
falta de modelos e mentores em que se espelhar no setor de negócios,
ausência de network profissional em suas comunidades,
falta de dinheiro,
status depreciado na sociedade e,
especialmente, uma generalizada falta de assertividade e confiança de que elas seriam capazes de conduzir um negócio, fazendo com que as mulheres não percebam oportunidades nem ajam de maneira empreendedora.
Propensão para empreender
A probabilidade de homens jovens iniciarem um negócio é 1,3 vezes maior do que mulheres jovens, e eles também têm 1,6 vezes mais chance do que elas de continuar com a empresa passados os anos críticos iniciais.
Embora a maioria dos empreendimentos jovens geram trabalho apenas para o proprietário, ainda assim os negócios femininos tendem a ser menores que os masculinos – 73% são empresas de uma só mulher, enquanto 66% são empresas de um só homem. E, de modo geral, é duas vezes mais provável que os negócios administrados por homens gerem mais do que cinco empregos, comparado a negócios gerenciados por mulheres com menos de 34 anos.
Apesar da formação semelhante, os homens têm percepções mais favoráveis nos quatro aspectos mais relevantes para ter um negócio próprio. A confiança em sua capacidade e a chance de conhecer alguém que possa orientá-lo na criação de uma startup são bem superiores às das mulheres. Também suportam melhor o risco e estão mais atentos a oportunidades.
É interessante observar que esse abismo aparece nos estágios de evolução do negócio e não no início do processo. Quando ainda é apenas uma intenção, homens e mulheres têm posicionamento parecido: 29% delas e 35% deles afirmam que sim, teriam vontade de empreender. Mas colocar isso em prática é bem diferente. Começa a surgir aí a distância entre homens e mulheres. Entre elas, a chance de efetivamente executar uma ideia é quatro vezes menor do que a intenção manifestada. Sem acesso a mentores e com nível baixo de confiança, as mulheres tendem a ter menos vontade de se engajar em alguma iniciativa e a não acreditar que o negócio possa se sustentar no longo prazo.
Um exemplo: na hora de financiar um empreendimento, as mulheres comumente recorrem a parentes ou amigos, enquanto os homens procuram uma instituição financeira. O acesso ao crédito traz mais sucesso ao negócio. As mulheres, por não acreditarem em sua competência, ficam receosas de não conseguir apresentar um business plan consistente ou não conseguir dialogar de igual para igual com um gerente de banco, então evitam esse recurso.
Educação & treinamento
Um ponto positivo observado pelos pesquisadores do GEM é a paridade entre homens e mulheres em termos de acesso a educação voltada a negócios em algum momento de seus estudos. Jovens que recebem esse tipo de treinamento tem 1,2 vezes mais chance de se tornarem empreendedores. A capacitação após a conclusão dos estudos tem efeito ainda mais positivo: a chance de empreender é 1,5 vezes maior entre os homens e 1,8 vezes maior entre as mulheres.
Porém, de modo geral, as mulheres ainda empreendem mais por necessidade do que por senso de oportunidade, e não conseguem se equiparar aos homens em termos de aspirações ou expectativa de crescimento do negócio.
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